06 abril 2006

Carta às Entidades Estudantis do Paraná

Li na página do governo estadual o texto do
manifesto assinado por diversas entidades do movimento estudantil. Queria manifestar o meu apoio no todo, mas não posso deixar de fazer alguns comentários.

1- Fui às ruas em 2002 para ajudar a eleger Requião no 2ºturno. Estou disposto a fazê-lo novamente neste ano, principalmente se algum risco houver de o governo do estado cair nas mãos dos antigos calhordas que ocuparam o Palácio Iguaçu, durante 8 anos. Essa é minha posição pessoal, mas que se submete às decisões de meu partido.

2- Essa posição se deve ao fato de que concordo com o texto do manifesto quando se refere aos “avanços da educação pública no Paraná nestes últimos três anos”.

3- Se o trecho “forças reacionárias que tentam desqualificar o trabalho realizado e reconhecido pela sociedade paranaense” está se referindo à APP Sindicato, não posso concordar. A APP sempre manifestou reconhecimento a esses avanços em relação ao governo anterior, portanto não é reacionária. Referir-se dessa forma à direção de uma entidade re-eleita por 69% de seus mais de 50 mil sindicalizados, há pouco mais de 6 meses, é que pode estar desqualificando não só o trabalho que motivou sua re-eleição, mas todo o princípio democrático de representatividade.

4- “O plano de carreira, o projeto Fera, o concurso público, os jogos colegiais, o livro didático, o projeto Com Ciência” não são o pomo da discórdia APPxSEED. Reconhecemos, como já disse, tudo isso como importantes avanços. É preciso, entretanto, que as entidades estudantis que participaram e participam conosco de tantas lutas, reconheçam que essas conquistas – especialmente o plano de carreira e o concurso público – são frutos de nossas mobilizações. Não conseguimos no governo anterior, é verdade. Mas também é verdade que tivemos que arrancar “à fórceps” esses compromissos às vésperas da eleição passada. E ainda assim, a poucos meses do término do mandato, há tanta promessa ainda sem cumprir. Algumas que até viraram lei, mas nunca foram regulamentadas ou, pior, foram vetadas pelo executivo.

5- Quanto ao projeto Fera, Jogos Colegiais, Livro Didático, projeto Com Ciência e outros, é preciso que reconheçamos que não há unanimidade e que questioná-los não pode ser tachado de reacionário. Sim, são projetos revolucionários, mas não reconhecer que há problemas nesses projetos é achar-se dono da verdade e uma verdade imposta, posto que pouco se discutiu sobre sua a implantação. Mas é preciso insistir que questionar esses projetos não significa desqualificá-los.


6- O manifesto não cita diretamente, mas insinua que as “bandalheiras e manipulações” são realizadas pela diretoria da APP, especialmente seu presidente que é citado. Ora, o movimento estudantil conhece muito bem qual é a dinâmica da tomada de decisões numa entidade sindical. Cada ato tirado pelo sindicato (independente se foi correto ou não) é aprovado pela maioria. Tanto nos Conselhos, quanto nas Assembléias. São fóruns abertos com direito à participação e voz a todos, inclusive aos estudantes e aos membros da SEED. Apenas se reserva o direito ao voto para os sindicalizados. Pode haver manipulação? Pode! É dado os mecanismos para se evitar manipulações? Sempre! Pode ter igual, mas estou pra ver entidade mais democrática em suas tomadas de decisões do que a APP Sindicato. Quanto ao adjetivo “bandalheira”, prefiro não comentar. Seria importante que os movimentos estudantis, pelos anos de luta, lado a lado, e por uma questão de respeito, retirassem-no do texto do manifesto.

7- Quanto à pré-candidatura do professor Lemos, quero dizer que preferiria vê-lo até o fim de sua gestão (05/08) na direção da APP. Tenho por ele grande admiração, mas não terá meu voto por duas razões: fidelidade partidária e por desconfiar de representações por categoria profissional no parlamento. Entretanto, é preciso respeitar sua decisão que, certamente, não é isolada. Com ele, centenas de militantes sindicais e do partido tomaram essa decisão. Merecem respeito. Desqualificar todo o seu passado de lutas porque agora pleiteia ser deputado é atitude para - aí sim - ser qualificada como “ingratidão”. Quanto à expressão “bandeira dos covardes”, também prefiro não comentar e esperar que revejam esse posicionamento.

8- O manifesto conclui “reiterando o compromisso da juventude paranaense com o nosso governo e com as conquistas que o mesmo tem realizado”. Penso que o compromisso da juventude paranaense e especialmente das entidades estudantis deve ser com a juventude que está nas escolas (ou fora delas). Compromisso que, apesar das dificuldades que as entidades têm incansavelmente lutado para superar, tem que ser renovado a cada ano através da mobilização dos estudantes. Nenhuma escola sem Grêmio deveria ser o grande mote. Nenhum Grêmio de fachada. Nenhum Grêmio manipulado por diretor da Escola. Nenhum Grêmio impedido de exercitar o direito dos estudantes de assumir o comando de seu processo educacional. Nenhum Grêmio acovardado pelo medo da repressão. Nenhum Grêmio decidindo sozinho ao não estimular o funcionamento do Conselho de Representantes de Turma. Nenhum Grêmio sem representação efetiva no Conselho da Escola. Nenhum representante do Grêmio no Conselho Escolar avalizando decisões da direção da escola sem consultar os estudantes.

9- Nos meus 3 anos à frente da direção de um dos Núcleos Sindicais da APP, mantive nossa sede sempre aberta às necessidades das representações estudantis. Acreditava e continuo acreditando que nosso trabalho sindical, especialmente na luta pela Educação como um todo, seria facilitado se fizéssemos conjuntamente, guardadas nossas peculiaridades e independência. Continuo na direção, embora não mais como presidente. E continuo propondo esse entendimento. Imagino sempre uma visita às escolas: APP e entidades estudantis. Nós conversando com os professores e funcionários. Vocês com os estudantes. Nenhum diretor poderia usar a desculpa do perigo da “bandalheira”. Ao final, poderíamos fazer um momento conjunto: estudantes + movimento estudantil + sindicato. Isso é perfeitamente possível. Basta querermos e nos organizarmos. Seria revolucionário também, não?

10- Um abraço fraterno a todos os companheiros e camaradas.


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